23 de dezembro de 2013

Matar antes que me mates

Era agosto de sei lá que ano. Só me lembro que estava no 1° ano do ensino médio em um colégio novo.
Era madrugada de uma terça-feira abafada e eu não consiguia dormir,  só me revirar na cama sem parar.
Fiquei mexendo no celular até umas 2h da manhã,  tinha que dormir, eu tinha aula e acordaria cedo como de costume.
Você não saia da minha cabeça, o motivo era saudade... de você,  do seu jeito, da sua presença no meu dia a dia mesmo sendo apenas te vendo do outro lado do corredor.
Como eu sempre fui impulsiva estava na hora de tomar uma atitude,  conviver com saudade nunca é bom e naquele momento estava acabando comigo.
Fiquei pensando o que faria dessa vez, me revirava na cama e por mais que eu tentasse dormir não consiguia.  Eram 3h, 4h, 5h e eu ainda não tinha dormido. De repente meu despertador toca e já é hora de levantar, porra, que isso!
Levantei e me arrumei, peguei minha mochila e sai. Parecia tudo normal, mais um dia de aula, mais um dia após o outro. Mas não estava indo pra escola como minha mãe imaginava. Esse era mais um dia de correr atrás do que eu queria, ou melhor, de quem eu queria.
Fui em direção a sua casa, que por algum motivo eu sabia exatamente onde era.
Ainda era 5h48 quando cheguei em frente ao portão da sua casa, você sem dúvida ainda estava dormindo, então decidi esperar.
Quando era 6h37 ouvi um barulho, e olhei para ver o que era. Era seu pai, indo trabalhar, mas e você, onde estava? Seu pai saiu e decidi esperar mais um pouco, não demorou muito até que você aparecesse,  ficou sentado em um banco na garagem, como se esperasse alguém,  provavelmente carona. Então era minha chance.
Eu me aproximei, fiquei quase no meio da rua, e fiz "pissssssss", você olhou pra cima,  meio atordoado com cara de quem acabou de acordar, demorou um pouco até que você me visse.
Quando você me viu não se surpreendeu de forma tão espantosa,  talvez porque já soubesse das minhas loucuras.
Antes que você pudesse falar qualquer coisa eu peguei alguns papéis na mochila e te mostrei. Eu era uma louca no meio da rua, com uma cara de boba e uma sensação idiota te mostrando alguns papéis,  é realmente, nunca fui muito boa com palavras ditas, sempre prefiri as escritas.
O primeiro papel dizia "Oii!"
Depois "Tudo bem?"
Você olhos pro lado, deu um sorriso torto, como quem não acreditava e meio que esnobava, mas sei lá né?
"Vim matar a saudade de você antes que ela me matasse" dizia a última plaquina, que na verdade não era pra ser a última,  mas acabou sendo.
Naquele momento um carro chegou pela rua e parou bem entre nós, vi você levantar, balançar a cabeça como se quisesse acordar de um sonho, pegou a mochila e foi até o carro.
Você abriu a porta, mas antes de entrar me olhou, com um olhar que dizia "não espere, siga em frente", ao fim você acenou com a cabeça e entrou no carro.
Naquela manhã de agosto de um ano sei lá qual, vi você partir, bem diante dos meus olhos.

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