8 de julho de 2014

Aquela Meia Noite

(adaptado/2017 - original só no papel) 



Eu não me lembro de muita coisa do dia seguinte da festa. Foi divertido, tanto que o Vitor até falou alguma coisa sobre viajar nas férias. Depois do almoço tive que sair correndo, porque tinha que estudar, ainda estava em semana de provas então nem deu para eu conversar direito com o Gabriel.
A semana após a festa junina e da HP do Vitor passou voando para quem estava em semana de provas, mas lentamente para quem estava com dor no coração e um alguém na cabeça. Eu nunca tinha me sentido tão insegura e confusa ao mesmo tempo, ele me deixava instável, sem saber o que sentir, ou então com tantos sentimentos que dava uma baita de uma confusão.
Depois dessa longa semana, Gabriel insistia em permanecer em meus pensamentos e eu já não sabia o que fazer, não sabia se corria atrás ou se tentava esquecê-lo, falando assim parece fácil, talvez seja, para quem vê esse amor platônico, mas para quem sente não é, nem um pouco.
                Depois daquele dia, daquelas festas seguidas e daquele amanhecer eu fiquei muito mal, sem motivo ou justificativa, eu apenas estava mal. Na noite posterior a da festa eu precisava acabar com a guerra que se passava dentro de mim, para isso, fui pedir ajuda para o melhor amigo do Gabriel, o Vitor. É mais fácil ouvir de outra pessoa, ouvir alguém falar na minha cara que eu não tinha chance, que eu tinha que desistir, já que o próprio Gabriel não falava, mas acho que isso foi muita covardia da minha parte. É muito mais fácil pedir para alguém decidir as coisas por nós, desde as coisas mais simples até as decisões mais complicadas, quando pedimos para alguém decidir por nós, fugimos, tiramos esse peso das costas e iludimos a nós mesmos dizendo que não tivemos opção, quando na verdade escolhemos abrir mão da decisão, é muito mais fácil jogar a culpa em outra pessoa.
Acabou que no fim, ao conversar com o Vitor, abri os olhos para o que já era claro para todos, talvez até para mim, mas que na verdade eu não queria ver. Ouvi o que não queria, mas que precisava. Quando coloquei a cabeça no travesseiro depois daquela conversa fui dormir com a respiração pesada, com os olhos inchados e soluços marcados, que quebravam o silêncio da noite. Até aquele momento eu nunca tinha chorado por ninguém, nem mesmo pelo Gabriel. Foi quando derramei a primeira lágrima que eu percebi que eu gostava de verdade dele, dali em diante seria para sempre, que mesmo sabendo que eu conheceria muitas outras pessoas, muitos outros amores, eu sabia que dali em diante ele teria para sempre um lugar especial dentro de mim.
                Não sonhei nada aquela noite, acordei sabendo que tinha que parar, o encanto do meu “conto de fadas” tinha que acabar. Como estava na semana de provas não foi tão difícil não falar com ele, ele mesmo não me chamou e com a correria eu também consegui me distrair para não chamá-lo no Whatsapp, tinha até a desculpa de que estava em provas e não podia, mas foi uma tortura não pensar nele, tinha tanta vontade de correr, parar tudo e ir atrás dele, sem me importar onde ele estivesse, fosse aqui ou a um oceano de distância, fosse a um quilometrou ou em qualquer lugar.
                Com o livro de física na mesa, o material da escola todo espalhado e o celular do lado, olhava a cada cinco minutos qual era a última vez que ele tinha entrado no Whatsapp e ficava imaginando onde ele estaria e com quem.
                Às vezes me olhava no espelho e conseguia entender o porquê de eu não ter chance, no fim acabava ficando triste ou com raiva de mim mesma por causa do que via, no fim, ia dormir pensando nele.
                Os dias passaram, eu sofria por causa das provas e por causa de uma realidade que a ausência me trouxe. Tantos dias sem falar com o Gabriel e ele parecia não sentir falta, das conversas, da zoeira, da minha companhia, não como eu sentia. Me senti idiota, inútil e só mais uma, me senti só um minuto perdido na infinidade de momentos decorrentes de loucura.
                Ainda assim esses dias não foram suficientes para tirá-lo dos meus sonhos, onde frequentemente ele fazia aparições surpresa capazes de ao acordar colocar um sorriso no meu rosto, mas logo em seguida me fazer perguntar o porquê.
                Minhas amigas diziam que não valia a pena, que eu era louca. Talvez não valesse, talvez tenha feito de mais, sei que dei o meu máximo, sei que de menos eu não fiz, mas mesmo sabendo tudo isso, eu não me arrependi de nada. Afinal se não fosse eu para mostrar tudo isso pra ele, quem seria? Quem diria a ele o quão especial ele é, o quão importante e avassalador na vida de alguém ele é? Não confio e nem acho que alguém estaria disposto a tudo isso.
                Duas semanas tinham se passado e eu ainda não tinha falado com ele, nem ele comigo. Era 23h47 do dia 30 de junho, eu olhava para o relógio, ouvia o tic e tac dos segundos sem fim, minhas mãos suavam e eu começava a entender a música que dizia: “mas o relógio tá de mal comigo”. Nunca tinha esperado tanto o relógio bater meia noite. Aquela meia noite não era de nenhuma Cinderella, muito pelo contrário, aquela meia noite seria do playboyzinho, que completaria 17 anos, era a desculpa perfeita para eu ligar e ouvir sua voz mais uma vez.
                Realmente não sabia se mandava mensagem, se mandava um textinho no Whatsapp, se enviava “Parabéns” no Facebook ou se ligava para ele. Por apenas um segundo em que a loucura circulava por meu corpo transformei-a em um pequeno gesto, mais um pequeno gesto de loucura, em um impulso de emoção apertei o botão verde de chamar. Quando vi, o celular já estava chamando e de repente alguém do outro lado atendeu com uma voz suave e cansada, mas surpresa. Eu travei, não sabia o que falar, só quando a voz disse “alô” pela quinta vez eu respondi:
- Oii! Tudo bem? É a Carol!
- Tudo sim e você?
- Sim... então né! PARABÉNS!!! – Eu estava entrando em colapso
- Obrigado – Ele parecia sem graça.
- Tá velho, hein!? – Eu adorava provocar ele.
- Afff para! Tô nada
- Haahahah – Não tinha mais o que falar e eu já estava entrando em pânico
- Mas então, valeu – Ele parecia não saber o que falar também.
- Ahh que isso! Aproveita, curte muito, tudo de melhor e toda a parte clichê. Mas então, eu mentiria se dissesse que não fiquei esperando dar meia noite em ponto no relógio como já fiz várias vezes, mas dessa vez tinha um porque especial... Parabéns de novo, curte seus 17 anos, conta sempre comigo para tudo. – Os pensamentos voltaram a fluir na minha cabeça.
- Obrigado Ca! Mesmo! Você também pode contar comigo – Fiquei sem palavras
- Mas curte os 17 que deve ser foda, acontece muita coisa, vive muita coisa.
- Espero - Ele disse isso tão baixo que eu quase não ouvi como se estivesse pensando alto, acho mesmo que não era para eu ouvir.
- Te prometo... – Respondi bem baixinho também – vai acontecer.
Ficou um silêncio, aquele silêncio bosta que eu odeio, então:
- E por favor, não muda! – Eu disse rapidamente – Não deixe de ser esse cara tão especial, como eu disse... esse “playboyzinho com cara de mau”, porque esse cara é incrível. – Ele riu timidamente e eu ficava imaginando a cara dele – Então só liguei pra te desejar parabéns mesmo.
- Valeu seriooo!
- Então tá! Bjks – não tinha mais o que falar.
- Beijos, tchau. – Ele desligou.
- Tchau...
Quando desliguei meu coração estava disparado, eu estava numa nostalgia. Não conseguia tirar o sorriso do rosto e o aperto do peito.
Fui dormir naquela noite meio arrependia por ter ligado, porque aquilo acabava com todas as minhas tentativas de esquecê-lo, só não me arrependi por ter feito ele saber que eu continuava aqui, para tudo, e por ter mostrado que ele é especial, afinal não é por qualquer um que eu espero dar 00h.
Fui dormir, com ele mais uma vez na cabeça, mas dessa vez sem chorar, apenas a pensar, por que tudo isso? Por que era tão difícil ignorá-lo e esquecê-lo? Por que tanto sentimento? Dava uma nostalgia, uma vontade de ligar para ele de novo só para ouvir sua voz, mesmo que por alguns segundos, só para ter certeza que por alguns segundos daquele dia, ele pensaria em mim.
As férias continuaram e a gente não se falou mais desde a ligação, até que um convite mudou tudo.

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