30 de novembro de 2023

Carta para Julieta

Querida Julieta,

Sempre sonhei com o momento que escreveria essa carta pra você.

Já escrevi várias na verdade, não necessariamente pra você, mas de certa forma eram sim, porque escrevia de amor, escrevia com amor, algo parece que poucos acreditam hoje em dia. Então vou tentar te contar um pouco sobre os meus amores até hoje e explicar a dor que toma meu peito.

T foi o meu primeiro amor. Um amor de criança, inocente, platônico, mas que me tornou uma pessoa que ama se apaixonar. Me mostrou também como podemos expressar nossos sentimentos através de palavras. Ele nunca me fez sofrer, eu mesma que fiz, ao criar expectativas pela minha falta de maturidade. Guardo ele com todo carinho no meu coração.

F foi meu primeiro beijo, e como não se apaixonar por essa pessoa? Ele me fez sofrer. Foi o primeiro que me iludiu, mas hoje, agradeço, ele me fez mais forte. Depois, anos mais tarde reapareceu na minha vida, querendo me ver, se mostrando disposto, se mostrando interessado. Voltou, para de novo, me ensinar mais ainda. Me mostrar o quanto eu cresci, amadureci e elevei meu padrão e também para me mostrar, que ele não era o cara da minha vida, que eu, como toda boa adolescente, acreditava que era.

G foi o amor mais platônico. Não sei nem como descrever ele. Parecia tão intenso o que sentia por ele na época. Como se meu mundo fosse acabar, meu coração fosse explodir e só ele podia me salvar do fim do mundo. Ele era uma pessoa legal, mas de fato não se encaixaria com a pessoa que eu me tornaria, que alias, tenho muito orgulho de ser. Ele também me fez sofrer. Ele era um pouco mais velho e acho que naquela idade, alguns poucos anos acabavam sendo muito. Eu ainda não tinha maturidade e ele não tinha responsabilidade. O que ele me deixou foi um medo imenso de ser intensa e afastar as pessoas, de ser intensa e assustar, de ser eu mesma e ninguém aguentar. Carrego isso comigo até hoje.

L foi o meu amor de faculdade. O primeiro pra quem me entreguei, e como não se apaixonar por essa pessoa? Foi breve, foi gostoso e doeu porque simplesmente acabou, assim como o G, ele simplesmente sumiu da minha vida como se nem tivesse passado, mas acho que diferente, foi um pouco mais fácil de superar. Não gastei noites chorando ou pausei minha vida por isso, juntei os pedaços, guardei as lembrenças boas, joguei fora o que não me servia e segui em frente. Agradeço por ter sido com ele.

V foi por muito tempo meu melhor amigo. Eramos amigos desde a infância, o que fazia com que qualquer tentativa fosse muito arriscada. Sempre que eu estava disposta a dar uma chance, ele não estava, ou vice versa. Parecia até ironia do destino, aconteceu e assim a gente percebeu que não era para ser mesmo. Só lamento que isso acabou sim estragando nossa amizade.

LH foi um amor breve, rápido, mas tão gostoso de se viver. De verdade, dele não tenho nenhuma lembrança ruim, só queria não tê-lo conhecido no momento em que ele estava se apaixonando por outra pessoa, mas como uma boa defensora do amor, aceitei que ele encontrou o dele, fiquei feliz por ele e segui.

Eu sempre amei a sensação de estar apaixonada. O frio na barriga, a mente a mil, a falta de sono, o desespero para encontrar a pessoa de novo. Não estar apaixonada era até estranho, era como estar sem rumo. Mas foi assim que fiquei por um bom tempo, sem me apaixonar. Até que deixou de ser estranho e passou a ser normal, ser bom. Fiquei bem estando apenas comigo mesma, ou eventualmente ficando com alguém sem precisar perder o ar, sem ter o mundo revirado de cabeça para baixo, sem querer jogar tudo para cima.

Nesse momento então, foi quando outros sonhos gritaram mais alto.

Uma vez que o sonho de amar e ser amada estava em silêncio, consegui ouvir outros sonhos, que me levaram a uma das maiores loucuras da minha vida.

Decidi mudar de país, deixar tudo para trás e começar tudo de novo. Foi quando esse sonho começou a se realizar que ele chegou.

J, entrou na minha vida do nada, através de um simples acaso. Tudo escalou tão rápido. Nos conhecemos numa quarta, fomos viajar com alguns amigos na sexta, nos beijamos no sábado, dormimos juntos na terça e a partir dai passamos a nos ver uma vez por semana, até que duas, até que três. Um mês depois já sabiamos onde isso iria levar. Eu estava indo embora em alguns meses, mas aquilo estava tão bom pra ser finalizado de forma prematura, então aceitamos os termos e decidimos continuar. Em três meses, eu disse que o amava e passavamos cada vez mais tempo juntos. Durante o carnaval, por mais ironico que pareça, foi no feriado da putaria em que ele disse que me amava. Logo depois disso, era quase como se morassemos juntos.

Era tudo muito bom. Podiamos conversar sobre tudo, contei pra ele dos meus sonhos, das minhas inseguranças, mostrei minha cicatrizes e ele disse que jamais faria aquilo comigo. Na cama era uma quimica tão absurda que era perigoso até dar explosão. Nos carinhos, nas conversas, nos planos e no dia a dia, tudo parecia alinhado e perfeito, menos a data de validade, que só se aproximava, até que ela chegou.

Com ela vieram muitas lagrimas, um beijo, um abraço, um “eu te amo” no portão de embarque e depois disso nada mais foi como antes.

A cada dia mais frio e distante. A cada mensagem mais demorava a responder, até que parou de responder por completo. Foram semanas no escuro, imaginando o que eu tinha feito de errado, me culpando por eu ter desistido da gente, por não ter ficado e lutado, por não ter tentado, por não ter dado a nós, a ele uma chance de tentar. Logo eu, que sempre me orgulhei de ser a pessoa que tentava até o final, que fazia de tudo pelo amor e pela pessoa, que sempre saida da história com o sentimento de “fiz tudo o que eu podia”, mas dessa vez foi diferente. A culpa me destruiu, mas não mais que seu silêncio devastador. A distância que ele impunha entre nós, trazia de volta todas as inseguranças e cicatrizes que ele tinha jurado não causar. Ali ele quebrava sua única promessa.

Depois de 6 meses sem nos vermos, quando faria um ano que nos conhecemos, nos encontramos novamente. E como não ter expectativas? Sabia que nada seria como antes, mas ainda acreditava que o amor que (pelo menos em mim) ainda existia, seria o suficiente para nos reaproximar, nem que fosse por apenas uma semana, um dia, uma noite, um beijo, mas não, não foi suficiente nem para uma conversa. Éramos então, dois completos estranhos, que já não sabiam mais nada da vida um do outro. O cheiro dele ainda era o mesmo, o sorriso, as manias, as piadas, nada disso tinha mudado. Mas seu olhar já não carregava o mesmo brilho quando encontrava com o meu. Seu jeito já não carregava o carinho, apenas uma distância que parecia extratosférica e uma frieza pior que o inverno europeu.

Se ele não queria conversar, porque tinha medo de se machucar, tudo bem, apenas uma frase, através de uma mensagem teria sido suficiente: “É isso, acabou, isso me machuca e eu não quero reabrir essa porta”.

Se ele não queria conversar, porque tinha medo de me machucar, suas atitudes provaram o contrário, que pouco importava o que eu sentia, que eu de fato era só algo do passado e algo que não merecia nem consideração, porque suas atitudes me fizeram sentir como se tudo o que tivemos fosse NADA, como se não tivesse sido de verdade e que todas as vezes em que ele disse que me amava, tivessem sido da boca pra fora.

E apesar de estar com raiva e saber que eu não mereço me sentir assim, ainda doi. Dói porque eu ainda o amo, dói porque aumenta a culpa que sinto por não ter ficado, não ter tentado, não ter lutado. Dói porque o fim é culpa minha, eu não dei escolha, eu fui embora, eu deixei ele numa posição em que ele não poderia fazer nada. Dói também me sentir tão esquecível, tão irrelevante, tão pequena perto de algo que pra mim foi tão grande e intenso, dói sentir que foi tudo uma farsa, que não passou de ilusão. Dói pensar que eu nunca mais vou poder abraça-lo, beijá-lo, que nossa química virou apenas estatistica, mais um pra conta de amores que não deram certo.

Então me diga, Julieta, com todas essas histórias que te contei, qual o limite do amor? Até quando devemos insistir na ausência de palavras? Ou melhor, qual a fórmula para fazer parar de doer? Porque esquecer eu sei que será impossível, e nem quero. Ele fez parte da minha história, me mostrou um lado lindo da vida que eu não conhecia. Me mostrou, enquanto estavamos juntas, como é gostoso ser amada, mas depois me mostrou que quanto mais você ama, mais vulnerável você fica e assim maior a capacidade de te machucar a pessoa tem.

Como posso me abrir de novo quando sempre penso como poderia ser se fosse ele? Como posso me abrir de novo sabendo que alguém pode me machucar tanto? Como posso me entregar de novo sabendo que posso voltar para o mesmo lugar? Sozinha, com lagrimas nos olhos e um vazio enorme.

Julieta, ainda dói e não sei se um dia vai parar de doer, mas só queria poder olhar nos olhos dele e ouvir que foi real, que não foi um delirio, que ele sim me amou, mesmo que no fim ele também fale que acabou.

Com amor,

Carol

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