6 de janeiro de 2014

Sacada de Romeu

      Eram 3h da manhã e chovia forte, mas só chuva, nada mais. Ouvia cada forte pingo de chuva bater no telhado da vizinha um 'tac tac' insuportável.
      Estava sozinha em casa e como os pensamentos não me deixavam dormir resolvi sair e dar uma volta, é na chuva, no frio, de madrugada, talvez assim ele acreditasse em mim. Mas apesar de tudo não fui muito longe, virei a esquina da minha rua e segui reto, ao fim dessa outra rua havia um grande condomínio de prédios, lá era onde eu queria chegar.


      Só quando cheguei lá toda molhada e morrendo de frio que me toquei me perguntando como iria entrar no prédio. Não sei o que fiz, só sei de que alguma forma eu consegui entrar no condomínio, talvez o porteiro tenha ficado com dó,  ou eu tenha dado qualquer desculpa do tipo, voltei tarde da balada e resolvi ir pra casa da minha prima, mas não importa o que eu disse, eu consegui entrar.
      Não fui em direção de nenhum elevador nem nada, segui reto e fui em direção a uma torre em especial, denominada "jump" onde ficava o salão de festa, o louge e o mais importante o apartamento dele.
      Não cheguei a entrar no prédio,  na verdade continuei na chuva, esse era o meu objetivo.
      Sabia que seu apartamento não era tão alto, na verdade era no segundo andar, então ele me veria sem grandes esforços. 
      Sentei em um banco bem debaixo da sua janela e então peguei meu celular,  primeira coisa  "whatsapp" abri o chat com ele e mesmo sem falar "oi" nem "tudo bem?" eu disse:
"vai até a sacada"
ele visualizou,  escreveu, mas não chegou a enviar, nesse momento achei seriamente que ele não apareceria, então fiquei olhando para os lados.


       Em menos de cinco minutos, ele apareceu na sacada, com olhar meio cansado de quem também não havia dormido, sem camisa e com todo o seu charme natural.
      No começo ele pareceu um pouco assustado, mas depois lembrou que aquela não era a primeira vez que eu fazia algo desse tipo. Com o celular na mão ele finalmente respondeu
"oi"
Antes de dizer qualquer coisa, pensei duas vezes, então mandei
"eu disse pra você,  que estaria aqui,  não importando que horas fossem, se fizesse chuva ou sol, o importante é que eu sempre estarei aqui quando você precisar e eu sei que você não está bem, só me promete que não vai mais duvidar, afinal eu tô aqui, debaixo de uma puta chuva quase morrendo congelada, só pra te mostrar do que eu sou capaz de fazer por você."
      Depois disso ele não escreveu mais nada, apenas leu, ficou um tempo me olhando e finalmente saiu da sacada.
      Ali quase morrendo de frio não sabia mais o que pensar, seria aquilo que eu fiz uma loucura tão absurda? Eu devia ir embora, antes de pegasse uma pneumonia,  levantei, olhei a paisagem e dei mais uma espiada na janela do seu apartamento,  então decidi era melhor eu ir embora mesmo.
      Antes que eu pudesse me distanciar muito, ouvi passos atrás de mim e achei que era o segurança vindo me perguntar qual era o meu problema e por que eu estava na chuva, já pensando na explicação que eu iria inventar, me surpreendi, ao ver que não era o segurança,  era  um menino alto, que estava sem camisa, ele era meio magrelo, mas bem definido, com uma pequena cicatriz na barriga que lhe dava um ar mais charmoso, ele vinha com um guarda chuva e um olhar ainda surpreso, esse menino era ele.

      Não sabia pra onde iria naquele momento, se ele deixaria o guarda chuva comigo para que eu voltasse pra casa sem me molhar mais, o que não mudava muito afinal eu já estava toda encharcada, não sabia se ele me levaria até o vestiário para me secar, mas o que me surpreendeu, foi que ele não fez nenhum dos dois, ele simplesmente me segurou junto a ele dentro do guarda chuva e me levou em direção ao hall dos elevadores, eu não questionei, estava com tanto frio e tão impressionada que não conseguia fazer nada a não ser olha-lo, eu nunca havia estado tão perto dele. Ali pertinho quase grudada eu conseguia ver casa detalhe de seu rosto, cada feição, intocável.
      Fomos até seu apartamento onde finalmente falamos alguma coisa, aquele silêncio todo estava me matando, mas foi só depois que me sequei e coloquei uma roupa seca que consegui voltar a pensar.
      Começamos a falar juntos, então ele disse "fala você primeiro"
      Hesitei no começo,  mas então resolvi falar "obrigada por me ajudar e me aquecer, hehe, e desculpa te dar trabalho, seus pais estão dormindo? Não quero te arranjar problemas."
      Ele passou a mão pelos lábios tampando o sorriso sem graça e finalmente disse "haha tudo bem, eles estão dormindo, mas não costumam acordar de madrugada, e não foi nada, depois dessa loucura e dessa 'declaração' o mínimo que eu podia fazer era impedir que você ficasse doente"
      O silêncio caiu de novo e dessa vez ninguém se movia, ele estava apoiado na mesa da cozinha e eu do outro lado sentada em um banquinho, nós nos olhávamos com vergonha, então eu disse "você não tá com frio?", ele só balançou a cabeça na negativa, então continuei "então se não for pedir demais será que você poderia colocar uma camisa, é que poxa, assim já é sacanagem comigo". Ele sorriu sem graça como quem estava rindo por dentro,  foi até seu quarto e voltou com camisa. Então olhou pra mim e perguntou se eu estava mais quente, eu disse que sim, fiquei meio sem graça, porque não sabia o que aconteceria agora, iria esperar a chuva passar? Ou ele me daria um guarda chuva para que eu voltasse seca?
      Ele não disse nada, só falou que estava cansado e eu provavelmente também deveria estar, eu concordei com a cabeça, então ele foi até o quarto e quando saiu apagou a luz e na mão ele trazia dois travesseiros e alguns cobertores, fiquei meio sem entender, então ele me chamou pra ir pra sala, eu fui, achei que ele ia me deixar dormir na sala, o que já era muito gentil da parte dele, mas então ele arrumou tudo e falou pra eu sentar no sofá, foi até a porta da sala e a fechou, então ele voltou até o sofa e se sentou do meu lado, ligou a tv e o silêncio foi preenchido pelo barulho de um programa tedioso desses tipos que passam de madrugada, até que não aguentando mais eu disse " e então? " ele me olhou sem entender, ficamos nos olhando até ele dizer "obrigado, por não ter desistido de mim, por mais idiota que eu fui com você, desculpa por tudo, mas eu ainda tô confuso, eu terminei meu namoro recentemente e você reapareceu do nada, você tinha sumido, por mais que não parecesse eu estava sempre de olho em você e nas suas indiretas.". Eu olhei com cara de quem não tinha mais forças pra lutar por ele, então minha última chance e força estavam ali "me afastei, mas não quer dizer que esqueci, muito menos que desisti e parei de sentir. Eu sei que o fim do seu namoro é recente,  e sei também o quanto você tá mal e eu vim aqui exatamente por isso, não pra me aproveitar da situação,  mas só pra mostrar que eu tô aqui pro que você precisar, mas eu também não tenho mais tantas forças pra lutar por você.".
      Ele olhou pra baixo, e depois de alguns segundos, chegou mais perto e pegou minha mão,  a mão dele era quente, macia e parecia insegura, mas depois segurou com força.
      Depois daquilo desligamos a tv e mesmo no escuro continuamos conversando e foi só ao amanhecer que adormecemos.
       Já no dia seguinte, pela manhã que já era quase de tarde ouvi umas vozes e barulho na cozinha, então acordei e reparei que ele não estava lá,  ainda meio atordoada conseguir ouvir melhor o que as vozes da cozinha diziam,  uma eu soube que era ele a outra era feminina, madura, como se fosse uma mulher adulta, provavelmente a mãe dele! Foi ai que eu me toquei, eu tinha dormido na casa dele, e os pais dele estavam lá e não sabiam!
Ouvi-o tentando explicar pra mãe, mas a história parecia encantada demais pra ser verdade, então no fim só a ouvi dizendo "da próxima vez avise, quando trouxer alguém aqui de madrugada, além disso, eu nem sabia que você estava de namorada nova"
Quando percebi que ele estava voltando já levantei em um pulo e ajeitei meu cabelo ele abriu a porta entrou e fechou-a novamente atrás de si e disse "bom dia", eu sorri, ele chegou mais perto e me deu um beijo, no meio da sala de tv, no meio de uma bagunça, eu com o moletom gigante dele, mas mesmo no meio de tanta confusão eu tive a certeza dos meus sentimentos, aquilo era sonho, perfeito.
      Ajudei ele a dobrar os cobertores e a levar pro quarto,  entre cada dobra um beijo ele me roubava. Então depois de tudo arrumado eu disse "é melhor eu ir indo, afinal não quero atrapalhar você e sua família e causar mais surpresas nesse dia" ele riu me deu outro beijo e disse que estava tudo bem, me devolveu minha roupa que já estava seca e eu me troquei,  depois disso tomamos café e ele me apresentou para sua mãe e seu padrasto, ou melhor, me representou,  afinal eu já conhecia eles, mas não dessa maneira, para me apresentar ele não usou rótulos,  como "minha namorada", "minha amiga" ou "minhas ficante" apenas disse "minha louquinha" eu corei, dei bom dia a cada um e depois de comer alguns pães de queijo me despedi.
      Ele desceu comigo e resolveu me acompanhar até em casa, que não era mais de 1km longe dali, fomos conversando de mãos dadas, subindo a rua, como se todo o passado não importasse e depois de uma noite tão fria, o amor que surgiu aquecesse tudo.


4 comentários:

  1. WWWooont que lindo texto! Me identifiquei um pouco com ele *-*
    Agradeço novamente por ter me mandado um e-mail, significa muito pra mim.
    bjo

    http://apenasleiteepimenta.blogspot.com.br/

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  2. simplesmente amei seu texto fico muito fofo e perfeito, você escreve muito bem e seu blog é perfeito. bjs

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