14 de setembro de 2018

Amigos

#MeusPequenosClichês

Feriado. Campos do Jordão. Dez jovens. Muita festa.

Ele sentou no banco do motorista, colocou o sinto e foi ajustar o retrovisor, nossos olhares se cruzaram. Estava sentada (esmagada) no banco de trás bem na linha do olhar do retrovisor.

Cada olhar trocado ao longo da viagem parecia uma invasão dos meus pensamentos. Com um deitado no meu ombro e outro roncando na minha orelha, só nós dois estávamos acordados, fomos conversando, trocando longos olhares misteriosos todo o caminho.

Tudo aquilo era novo e isso que me intrigava mais, me aproximava dele e me fazia querer descobri-lo.

Quase três anos de "amizade".
No primeiro ano éramos apenas conhecidos, íamos em alguns rolês juntos, mas não éramos amigos AMIGOS. No final do primeiro ano de "amizade" nos aproximamos e quando a amizade de verdade surgiu, ele foi embora. 
No segundo ano, estávamos a mais de 2 mil quilômetros de distância. Nossa interação era apenas por curtidas no Instagram, reações no Facebook, compartilhamento de fotos de cachorrinhos e algumas poucas conversas contanto algumas novidades. No final daquele ano ele voltou. Sua volta reviveu nossa amizade, agora mais forte, constante e real, porém diferente, não era apenas uma amizade.

Marcamos uma viagem para comemorar sua volta. Campos, festas, chocolates quentes e muita bebida. Cinco dias, tempo mais que suficiente para aproveitarmos e colocarmos todo assunto em dia.

Primeira noite: álcool, lareira, fondue, (passamos a noite nos evitando) e terminamos na balada até as 8h da manhã.

Segundo dia: recuperação da ressaca, jacuzzi, chocolate quente, sauna e roupões.
Segunda noite: pizza, vodka, tequila, terminamos numa hp até as 10h da manhã.
Terceiro dia: hibernamos para aguentar a rave que nos aguardava na terceira noite.
Terceira noite....
Meu corpo e minha cabeça doíam. Além da ressaca, o frio parecia ser meu inimigo e o resfriado o vilão da viagem. Não conseguiria aguentar até as 19h do dia seguinte. 20 horas de festa era difícil até para os mais fortes.

Avisei meus amigos que não iria, não tinha condições. Eles ficaram preocupados, sabiam que eu não era do tipo que desistia de uma festa fácil, depois só me zoaram e aceitaram. Me deixaram em paz e pude ficar em casa. Todos se arrumaram e saíram as 21h, era longe a festa.

Sozinha e em paz, coloquei uma camiseta largona, me enrolei no cobertor e deitei na sala para assistir um filme. Quinze minutos depois que a galera saiu, ouço um barulho na porta, gelo e me escondo no sofá, como se fosse adiantar algo. Quando o barulho termina, dou uma pequena olhada e vejo ele com uma cara triste e apressado. Pergunto o que aconteceu e ele explica que havia esquecido o documento indo em direção ao quarto. Vou atrás e pergunto se ele quer ajuda. Ele diz que não, mas resolvo ajudar mesmo assim. Começo a procurar pelo quarto com ele, mas fico sem graça de mexer em suas coisas,então resolvo ir procurar na sala. Enquanto saio do quarto, sinto seu olhar em mim, acompanhando meus movimentos.

Começo a procurar na mesa da sala, que a propósito estava uma bagunça, tornando quase impossível achar qualquer coisa ali. De repente olho para trás e o vejo parado me olhando. Seu olhar desvia e encontra o meu. Digo que não achei seu documento e ele diz que tudo bem. Pergunto o que ele faria então, ele diz que avisaria o pessoal que não conseguiria mais ir.

Volto ao sofá e ele me acompanha. Antes que se sente, ele pergunta "Que tal um vinho?", concordo com a cabeça. Alguns instantes depois ele volta com uma garrafa e duas taças. Brindamos, bebemos, conversamos. Debatemos sobre o mundo e suas questões, contamos as histórias desse um ano que passamos mais distantes. Quanto estávamos parecidos. O mundo tinha nos separado fisicamente, mas nos convergidos nas ideias.

A 1h da manhã ainda estávamos conversando, mas o frio parecia incomodá-lo, pergunto se ele estava com frio esticando o cobertor em sua direção. Ele se aproxima para conseguir se cobrir também. Mais perto ele parece sem graça com a proximidade e desvia o olhar para a TV. Ele se ajeita e deita na minha perna, Pergunta o que eu estava vendo, mas eu nem lembro mais, então aperto o play para lembrar. Era apenas um filme qualquer, uma comédia romântica, um filme clichê do Netflix, um desses que o casal sempre fica junto n final.

Foi aos poucos, foi sútil, sua mão estava apoiada na minha coxa e minha mão em seus cabelos, uma troca de carinhos que aquecia de dentro pra fora. 

Quando o filme acabada, ele levanta e se senta de novo, fica parado me olhado com os cabelos bagunçados. Eu deveria ir dormir, recuperar minha saúde. Quando decido me despedir, ele me puxa para perto e me beija. Eu retribuo e nos aproximamos mais. Era uma descarga muito grande de sentimento e vontade, quanta intensidade para o primeiro beijo. Certo? Errado? O mundo não deve ser visto de forma maniqueísta, certo?

Passo a perna por cima dele e sento no seu colo. Continuamos nos beijando e o frio já não parece ser problema. Ele se levanta comigo ainda em seu colo, me segurando firme. Me seguro nele com as pernas para não cair, como se não confiasse em sua força, coloco meus braços em seus ombros cercando sua cabeça e continuo beijando-o intensamente. Após alguns passos, já não sinto mais medo de cair e aos poucos vou afrouxando meus braços, deixando-os percorrer os dele. Sinto as curvas dos seus braços, estão nitidamente mais fortes que um ano atrás. Me sinto mais segura.

Saímos da sala e a luminosidade diminui consideravelmente. Entramos no corredor dos quartos e eu indico o caminho com o olhar. Entramos no meu quarto, ele me leva em direção a cama e me coloca delicadamente deitada enquanto me beija. Logo em seguida, se distancia e vai em direção a porta, a tranca e deixa o quarto sobre meia-luz. Na hora, preferi não pensar sobre os significados de suas ações, de tudo o que estava acontecendo e muito menos nas consequências de tudo aquilo. Não era o momento de racionalizar as coisas.

Mergulhamos na noite e uns nos outros. Nos demos a liberdade que jamais achávamos que dariamos um para o outro. Que loucura, que noite.

Cansados, confusos e arrepiados. Dormimos abraçados, mantendo o calor naquele momento, naquele contato, naquele abraço.

Acordei no dia seguinte ainda em seus braços. Parei alguns segundos para olhá-lo dormir, refletindo sobre o que havia acontecido naquela noite. O medo dos impactos daquele noite me assustavam e eu fazia questão de espantá-los logo em seguida. Seu cabelo estava desorganizado e sua feição tranquila, como quem dormia profundamente e bem.

Passei a mão nos seus cabelos e fui percorrendo a lateral de seu rosto. Coloquei a mão em seu ombro e fui percorrendo a linha do seu corpo, revendo cada músculo que ele havia usado para me segurar na noite anterior. Coloquei a mão novamente em seu rosto vendo as linhas de seu rosto. De repente, ele acordou, sorriu e ajeitou, ficando com o peito  descoberto para cima e me puxando para perto. Sinto sua pele quente contra a minha e me deito novamente. Coloco minha cabeça sobre seu peito e é instantâneo seu calor sendo irradiado por mim. Ele coloca a mão sobre a minha cabeça e brinca com alguns frios do meu cabelo. Com a ponta dos meus dedos, brinco de percorrer as lacunas do seu tórax, enquanto sua respiração me movimenta lentamente para cima e para baixo.

Após algum tempo sem nenhum palavra, apenas ouvindo a respiração um do outro, me desencosto e me sento na cama. Olho para ele e ficamos apenas nos encarando por alguns instantes, cada um com sua reflexão interna, até que convergimos para um sorriso em comum. Desvio o olhar e começo a procurar pela minha camiseta. A encontro e me visto. Durante todo esse processo, sinto seu olhar sobre mim e, incrivelmente, sinto vergonha.

Fico de pé ao lado da cama e apoio as mãos na cama, me inclinando em sua direção. Pergunto se está com fome e ele responde que sim. Ele se senta e se aproxima de mim, respondendo a minha inclinação. Nos beijamos sutilmente, bem diferente da noite passada, mas não menos melhor.

Aviso que vou buscar algo para nós e me viro em direção a posta. Antes que eu possa destrancá-la e abri-la, ele me puxa pelo braço, de forma que sou arremessada contra seu corpo. Ele me segura e eu ainda desnorteada pela rapidez do movimento. Ele me beija como na noite passada, mas ainda melhor, de  forma que acabamos voltamos para o ritmo e para a cama.

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